Aqui revirando os lençois, com uma insônia adquirida não sei de onde, me peguei a pensar em Deus. O Cara lá de cima, como diz aquela música.
Quando era criança e tinha pesadelos, ou dificuldade para dormir, minha mãe dizia que eu deveria pensar em algo bem bonito, depois rezar. Lembro de pensar na Branca de Neve e os 7 anões brincando no campo, isso de alguma maneira (que nem imagino hoje) me acalmava. Depois eu rezava um pai-nosso ou uma ave-maria, de vez em quando os dois, e dormia. Dava certo.
Estudei em uma escola de freiras, do pré até a 8ª série. Rezar era uma coisa comum pra mim, rezava todos os dias. No começo, rezava pedindo tudo o que queria, de presentes à paz mundial. Naquela época, lembro de um pesadelo frequente: eu, minha irmã e meus pais estávamos todos no banheiro de casa. Naquela época, eu morava em uma casa. De repente aparecia no vitrô, um ladrão que oferecia para cada um seu chocolate favorito. O meu era o Sufflair, que, btw, era muito mais gostoso nos anos 80. O problema é que todos os chocolates estavam envenenados e todos morríamos. Depois disso não sei o que acontecia, mas provavelmente o larápio envenenador roubava nossa casa. Como tive esse sonho! Sempre o mesmo! Nunca esqueci. Sempre, antes de dormir, rezava para que aquilo não acontecesse de verdade. Creio que foi aí que começou meu contato com Deus.
Um certo dia, abri a Bíblia - que nada mais era que mais um dos livros de escola - e li que não precisávamos falar pra Deus o que queríamos, porque Ele já sabia. A partir desse dia, parei de alugar o Cara com a descrição de meus desejos e passei a apenas agradecê-lo pelas coisas. "Obrigado por tudo, espero que meus desejos sejam realizados" ficou tão decorado quanto o próprio pai-nosso. Depois desse texto, começava a bater papo. Mesmo! Altos papos... falava de tudo. Nunca achei que precisava medir palavras com Deus. Se esse cara me fez à sua imagem, deve entender a minha linguagem também. Virou terapia. Fiz isso minha vida inteira, até uns 2, 3 anos atrás.
Foi mais ou menos na época que comecei a fazer terapia que parei de rezar todo dia. Substitui a reza pela terapia, creio que precisava (e preciso) do feedback. Eu já tinha perdido minha mãe e sinto que muita coisa de mim paralisou depois disso. Após uma perda como essa, há duas opções: ou você se agarra a Deus, ou você se desgarra. Fui para a segunda. Nunca atribuí a morte de minha mãe à Deus. Isso seria irracional, longe do que acredito. Por outro lado não foi Ele que me ajudou a diminuir a dor. Foram meus amigos que foram imprescindíveis nesse momento. Amo a todos incondicionalmente, e eles sabem quem são. Deixei de acreditar que algo etéreo me traria paz. Comecei a acreditar mais em pessoas. As pessoas que me cercam, estão aqui por um motivo. Deus está lá, em algum lugar inalcançável. Deixa Ele pra quando eu chegar lá.
Na terapia nunca explorei isso. Nunca vi necessidade. Meu lado espiritual virou material. Não acredito em religião alguma, acho perda de tempo e energia. Acredito em um Deus interno, dentro de cada um, que é aquela força interior que encontramos do nada, por nada. Energia positiva é a minha definição de Deus.
Hoje em dia quase não rezo, é raro. Geralmente quando o faço, é por estar sentindo uma sensação muito boa, de felicidade extrema. Felicidade é uma coisa muito boa de sentir, uma coisa realmente divina. Talvez por isso nessas horas lembro de Deus, que pra mim não está na igreja, não está na Bíblia, não está em nenhuma religião. Ele está em todos os lugares e, principalmente, dentro de nós mesmos. Cada um vê da sua maneira.
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Um comentário:
Divido com você a mesma opinião sobre Deus e o Sufflair. Assim como era a bolaha Bonos nos fofos 80.
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